Ténis: O segredo da longevidade de Federer em oposição aos rivais

Roger Federer conquistou o seu 20º título de Grand Slam em Melbourne

Nos quatro anos consecutivos - entre 2013 e 2016 - em que Roger Federer não venceu um único torneio de Grand Slam foi-se tornando cada vez mais unânime que o suíço dificilmente voltaria a vencer. Isso é agora uma mentira consumada e é importante perceber porque razão pode um tenista rejuvenescer aos 35 anos de idade...

"A qualidade do seu serviço aliada à sua extraordinária capacidade de gerar 'winners' regularmente poupa-lhe imenso tempo em court por comparação com os seus maiores rivais - mais dependentes do factor físico."

Quando a responsabilidade diminui...


Uma das grandes razões para o recente sucesso de Roger Federer - vitorioso em três dos últimos cinco GrandSlams disputados - terá sido a diminuição de expetativas em relação à sua pessoa, não só por parte dos media mas igualmente de si próprio.

Com o avançar da idade, FedEx foi percebendo que seria difícil continuar a competir ao mais alto nível durante toda a temporada, e que por outro lado, poderia não ser possível voltar a vencer com a regularidade de outrora.

Assim, o maestro suíço redefiniu as suas prioridades - abdicando da época de terra batida por exemplo - e colheu frutos com isso, chegando fresco física e mentalmente aos outros torneios. Ainda assim, não podemos ignorar a questão mental de, supostamente Federer ter deixado de figurar entre os principais candidatos aos troféus durante um determinado período temporal.

Ora, com as costas mais libertas de pressões e as pernas menos desgastadas, o tenista helvético conseguiu manter e até provavelmente melhorar o seu jogo a caminho dos 40 anos de idade, algo só possível em alguém superiormente dotado tecnicamente.


Um estilo de jogo poupa-pernas


Além da diminuição de responsabilidades, Federer também beneficia do seu estilo de jogo que lhe permite avançar nos torneios de grande importância com relativa facilidade nas fases iniciais.

A qualidade do seu serviço aliada à sua extraordinária capacidade de gerar 'winners' regularmente poupa-lhe imenso tempo em court por comparação com os seus maiores rivais - mais dependentes do factor físico - podendo assim conservar energias e gerir o aspecto físico ao longo de uma época.

E é neste ponto que surge uma grande rotura com os seus rivais. Novak Djokovic, Rafa Nadal e até Andy Murray são muito dependentes da sua condição física, e se não estiverem a 100% tornam-se muito vulneráveis pelo que apostam muito na sua preparação.

Para além disso, precisam de gastar muitas mais pancadas a cada ponto para se fazerem valer e isso tem um preço que a médio-prazo se parece estar a confirmar. Todos eles vêm lidando com problemas físicos recentes que os impedem de regressar ao mais alto nível, e quem agradece é um 'fresco' Roger Federer que aos 36 anos de idade parece estar aí para as curvas.

Quem não se lembra das épicas batalhas Nadal vs Djokovic? Pois bem, isso permitiu-lhes atingir patamares estratosféricos que impediram Federer de ser feliz durante algum tempo, porém era praticamente impossível prolongarem esses estados de graça por muito tempo e agora estão a sentir o reverso da medalha...


Ausência de novos talentos


Possivelmente poderão discordar desta afirmação, no entanto, e embora existam alguns tenistas com qualidade a despontar no ténis mundial, a verdade é que nenhum deles parece ter ainda condições de rivalizar por títulos do GrandSlam.

Vejamos os exemplos de Nick Kyrgios ou Alexander Zverev que parecem sempre prontos para ir longe nos grandes torneios mas que invariavelmente acabam por desiludir. Este ano, acreditei que Grigor Dimitrov teria uma palavra a dizer no melhor momento da sua carreira mas também nos deixou ficar mal a dada altura.


O que nos pode reservar o futuro?


Num momento em que se discute a eventual aposta de Federer no regresso a Roland Garros, creio que o tenista suíço deverá optar por se manter fiel a uma estratégia ganhadora, optando por evitar esta desgastante fase do pó-de-tijolo para atacar com todas as forças a relva de Wimbledon e o piso duro dos Estados Unidos.

Considerando que Nadal irá com tudo para o 11º título no Open de França, e que Djokovic continua em convalescença após um longo período de ausência dos courts, as portas para mais troféus estão entre-abertas e não me parece que Roger Federer vá enjeitar a possibilidade de fazer mais história no ténis masculino.